quarta-feira, 3 de abril de 2013

O que os tomates têm a ver com Pablo Neruda?


Moradores de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná,  estão cruzando a fronteira com Argentina para "contrabandear" tomate. Lá é possível comprar o fruto precioso por R$ 3,00 o Kg, enquanto por aqui, não está saindo por menos de R$ 8,00. No entanto, as autoridades brasileiras estão ameaçando: quem cruzar a fronteira transportando tomate pode perder a compra. “Esse tomate também não pode entrar porque não está sendo feita uma exportação, não tem certificado sanitário nacional. Está sendo contrabandeado”, alertou o chefe do Ministério da Agricultura, Antônio Garcez.

Já o proprietário de uma famosa cantina italiana - Nello's - que fica na região de Pinheiros, em São Paulo, resolveu fazer um boicote ao tomate. Motivo: o preço abusivo. Segundo ele, a caixa do tomate subiu de R$ 50,00 para R$ 150,00. 
Verdade. E digo mais: concordo com ele. Eu estou boicotando o tomate "in natura" há semanas, está compensando mais comprar o tomate importado enlatado.

Bom, estas notícias me fizeram lembrar um poema do poeta Pablo Neruda. O tomate do poema, vocês verão, não é aquele enlatado, mas sim aquele fresco, suculento, firme e lindamente vermelho que encontramos nas bancas das feiras e dos supermercados (e que compramos - quando o preço permite - ou contrabandeamos da Argentina... quem diria!)

Aí vai o inspirado poema: 

Ode ao Tomate
(Pablo Neruda)


"A rua se enche de tomates.
Meio-dia, verão, 
a luz se parte em duas metades de tomate,
Corre pelas ruas o suco.
Em Dezembro, se solta
o tomate invade as cozinhas,
Entra pelos almoços e se senta repousado em travessas,
Entre os vidros 
e as manteigueiras e os saleiros azuis.
Tem luz própria, 
majestade benigna.
Devemos, infelizmente, assassiná-lo:
afundar a faca em sua polpa viva,
é uma vermelha víscera, 
um sol fresco, profundo, inesgotável.
Enche as saladas do Chile,
se casa alegremente com a clara cebola,
e para comemorá-lo, deita-se-lhe o azeite, 
filho essencial da oliveira,
sobre os hemisférios entreabertos, 
adiciona a pimenta a sua fragância, 
o sal o seu magnetismo: 
são os esponsais do dia, 
a salsa embandeira-se, 
as migas fervem ruidosamente, 
o assado bate à porta 
com o seu aroma, 
está na hora!

E sobre a mesa
na curva do verão,
o tomate, astro da terra
estrela repetida e fecunda,
nos mostra suas formas,
seus canais,
sua amplitude notável
e abundância desossada,
sem armadura,
sem escamas ou espinhos,
nos dá o presente
de sua cor de fogo
e a totalidade de seu frescor."

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